Terça-feira
ago252009

Que força é essa?

Dia desses, folheando um jornal, leio a história do fotógrafo europeu que registrou meninos de rua aqui no Rio, anos 90. Não conseguiu editar seu livro lá fora e, recentemente, bancou uma edição do próprio bolso e voltou ao Brasil em busca dos fotografados. De tantos, encontrou apenas uma menina, que cresceu, trabalhou, saiu das ruas, teve seus filhos. Todas as outras  crianças estão mortas, presas ou desaparecidas. Suicidadas pela sociedade.

É triste constatar que isso me horroriza mas não surpreende nem um pouco. O que me surpreeende é saber que essa menina, que nasceu nas ruas e só não foi estuprada antes dos oito anos porque uma das irmãs a defendeu com uma facada no agressor, superou isso tudo, está fazendo o melhor que pode, tem otimismo e, pasmem, nunca roubou ou usou drogas. Que força é essa, menina?!

Ver gente julgando essas crianças sempre me deixou transbordando de raiva e tristeza. Cara pálida, se fosse você ali no lugar dela, o que faria? Teria a força que essa menina teve? Você que não dispensa (ou não dispensava) seu chopinho, seu beque, seu tequinho, seu comprimidinho, só pra relaxar, pra estimular a criatividade, pra aguentar a pressão, pra anestesiar suas dores existenciais, porque o psiquiatra receitou e hoje em dia é assim mesmo? Você que dá ataque e briga com meio mundo porque a impressora pifou na última hora e você tem que entregar o trabalho, porque acabou o ingresso do show incrível que queria ver, porque tá sem dinheiro pra roupa nova (e um armário cheio delas), porque a sua mulher não é a mulher que você queria e seu emprego ídem e você não tem coragem de mudar, porque engordou e finge que não liga mas queria mesmo é ser linda, paparicada e desejada por TO-DOS, porque o salto quebrou na frente do carinha x, porque o carinha y te deu o fora, porque a internet deu pau e você tem que se "informar" e fofocar, porque o twitter tá fora do ar? Faça-me o favor, cara pálida: que força é essa? Cadê? Mostra aí... Pois bem: engula sua fraqueza, seus porques e seus julgamentos, é o mínimo. Porque a verdade é que, geralmente, não fazemos mais que nossa medíocre e egoísta obrigação: ou menos, porque se tem tanta criança assim morrendo nas ruas, estamos fazendo menos.

Moro perto de uma "cracolândia" recentemente "regenerada" pela prefeitura. Pracinha iluminada e policiada, frequentada por várias crianças da comunidade (ou favela, como prefiram) que se pendura ali. Crianças brincando à noite, depois do colégio, o invés de um canto escuro com outras crianças jogadas no chão se acabando no crack. A poucos metros, alguns dos garotos esquálidos de olhos arregalados que não vão à escola continuam pedindo um troco, uma lata de leite, um salgado, um pacote de fraldas: tudo vira crack instantes depois.  E sempre tem um menino novo, uma garota que em duas semanas perde vários quilos e o tico de sanidade que ainda restava no olhar. Outros que eu via sempre, sumiram. Nunca mais. Gostaria de saber que estão mudados, na reabilitação. Mas se antes do crack poucos sobreviviam nas ruas, o que você acha que acontece agora, cara pálida? Você se importa? Onde estão essas crianças? O que nós, mais ou menos caras pálidas, podemos fazer?

Vejo os moradores da comunidade e dos prédios de classe baixa, média e alta mais felizes na rua.  É a maioria, "gente de bem", que trabalha e leva uma "vida honesta". Melhorou, não posso negar. Talvez a melhoria da rua impeça que algumas crianças que estão na escola e na pracinha caiam na desgraça do crack. Mas também não tenho como negar o amargo e a pontada que vem do que há de mesquinho e cego nessa "felicidade".

 

 

Terça-feira
ago252009

Aberto para balanço - Retrospectiva 

Uiiii, não é isso que você, adepto do duplo sentido (hmmm...) acabou de pensar! Não!

É uma breve "avalição qualitativa pessoal" do que aconteceu por aqui nos últimos tempos. Só isso.

O último post sobre um show tem quase ano e meio - nem era neste site, mas no falecido, que teve esta parte importada para cá. Muitas apresentações e acontecimentos desde então.

O tal show aconteceu apenas "pela metade" e foi após a época em que iniciou-se uma terrível,  demolidora, deliciosa, difícil, indispensável - e excessivamente adjetivada - revolução pessoal. Dias antes do início de uma estranha pausa forçada e dolorosa. Entre a época do post anterior e agora, em que este está sendo escrito, essa revolução teve que dar jeito em trecos complicados e arraigados esperneando, fazendo birra. Ainda falta, sempre falta muito, mas a revolução resolveu crescer, foi mais fundo, decidiu dar umas porradas necessárias e falar mais sério. Felizmente, brincando também se pode falar sério. Atualmente a revolução aqui pensa em deixar seu "r" de lado. Está experimentando.

Finais, inícios e transformações se sucederam com ruído, fúria e a generosidade amoral do acaso-destino. Algumas vezes, mudanças se desencadearam apenas por cansaço e desilusão mesmo, admito. Ué, queria o que?

Pois é, e aí, e você com isso? E a música, e Voz del Fuego nessa história, qual foi, qual vai ser?

Você com isso, só você pode saber. Mas se quiser contar, fala que eu te escuto! No blog há espaço para comentários,  tem um guestbook por aí e existe algo muito legal que tem sido pouco usado - provavelmente porque privado - que se chama email. O diálogo é bem vindo.

A música? Aqui comigo, é indissociável da vida, segue seus fluxos e refluxos, harmoniza ou faz contraponto a seus ritmos. E qual foi... bem, foi o seguinte: entre os turbilhões e os retiros, aconteceram alguns shows muito legais, outros nem. Todos mais intimistas e com formação menor, geralmente só eu + a Goo na guitarra. Entre os que me agradaram, destaco o que aconteceu na festa Mobília Errada em SP há cerca de um ano: tinha um clima muito bom e pra completar eu tinha acabado de adquirir com certa sorte um synth ótimo e um Kaoss Pad. Rolou uma apresentação naquele programa de TV em que meio mundo já tocou, o Atitude.com, entre outros shows. No fim do ano passado tocamos no ótimo Muzik em Juiz de Fora, tudo certo para quem toca... mas algo não fluiu. Gostaria muito de tocar lá de novo. Até agora, em 2009 os shows que gostei mais foram na Mostra do Filme Livre, no Cachaça Cinema Clube e em um happening de Arte Sonora, que aconteceram, respectivamente, no Cine Glória, Cine Odeon e Parque Lage, todos no Rio de Janeiro, entre abril e julho.

O equipamento cresceu e melhorou muito, bem diferente dos tempos do PC bege, da MC-505 "só som de pista comprimido", da interface que dava pau ao vivo e me deixou na mão mais de uma vez. Não que um equipamento melhor seja fundamental, mas essa da interface antiga era dureza... e brinquedo novo dá uma alegria - e um som melhor. Músicas novas foram poucas - uma só tocada ao vivo, algumas na "pasta", nenhuma finalizada e disponibilizada online. Também, além dos "turbilhões e retiros", a partir de setembro de 2008 me envolvi em outros quatro projetos diferentes em música, com outras pessoas. Cada um a seu tempo, às vezes três ao mesmo tempo. Dezenas de músicas novas e improvisos nesses outros projetos, com essas outras pessoas. Neste ano de 2009 caiu a ficha de que várias viagens que eu imaginava se encaixavam no que pode ser chamado de Sound Art, veja só... ou escute só! E Voz del Fuego ali vendo - ou ouvindo - qual vai ser...

E aí, qual vai ser afinal?!?

Não tenho idéia. Ou melhor, tenho várias idéias. Mistério.

Chega junto que depois eu conto.

 

Terça-feira
ago252009

De verdade

Há pouco mais de um ano percebi que havia se desencadeado em mim um processo de mudanças inicialmente imperceptíveis para os que conviviam comigo. Transformações que foram se intensificando e criando novas estruturas, com delicadeza E violência, em meio ao meu caos pessoal. Você já teve seu caos pessoal? Cultivei o meu com a dedicação dos devotos por muitos anos - mas mesmo isso envelhece e precisa mudar. Na mudança, um outro caos nasce com mais vigor, porque não é de fileirinhas retas de soldadinhos, etiquetas e arquivos lineares em cubos perfeitos que as coisas são, certo?

O amor coagulou, se esvaiu, dissipou-se no escuro e depois se refez em mim - e para mim - como nunca antes. Amizades se transformaram ou tiveram fim, vínculos novos surgiram, se fortaleceram ou se romperam - inevitável. Reencontro às vezes os que se apegaram tanto à própria desconstrução-destruição que não percebem a velhice conformista, covarde e escapista do que ainda acreditam transgressor. Felizmente também há muitos que tem a lucidez de saber que estão (estamos) todos ali levando a vida do jeito que se consegue naquele momento, e só: sem justificativas esfarrapadas e falsos "heroísmos marginais", sem julgamentos, culpas e condenações. De qualquer modo, acho que há sempre medo da mudança - e todos temos o humano direito a isso.  Quem nunca teve medo da mudança, da morte, da dor, do vazio e do abandono que atire a primeira pedra, a primeira guimba, o primeiro copo, o primeiro remedinho, a primeira mentira "filosófica" ou religiosa. Ninguém disse que era fácil.

Sem anestesia? Dói mas é bom. A onda é forte. O bagulho é doido.

Eventualmente também recebo notícias, querendo ou não, dos que, "ao contrário", se acreditam transformados por forças, posses, posições, estímulos e afetos externos, inevitavelmente transitórios, sempre um tanto superficiais: quando se precisa de curas que só podem vir das entranhas, de nada adianta buscar e "encontrar" do lado de fora. São mudanças motivadas e sustentadas por crenças que se firmam apenas no próprio desejo de crer - e das posteriores interpretações equivocadas que surgem dessa crença. Crença fome, crença apego, crença desespero - comumente coberta de sorrisos, "bondades" e frivolidades. Crença que entrega seus medos e demônios sem perceber, ao tentar escondê-los atirando a batata quente nos outros, sempre os outros, os maus, os podres, os mentirosos, os que não se confessaram, os possuídos, OH! Com isso, exibem no picadeiro mais de seus próprios ratos escondidos com rabos de fora. Sei o que é isso, acho que todos sabemos, ainda que muitas vezes de forma medrosa e pouco consciente. Também temos todos direito a isso. A questão é: até quando fingir que se quer isso? Essa miséria enfeitada?

Eu não quero mais isso. Agora tenho uma outra vontade. É só o início: finalmente!

Que cada um tenha a sua vontade e que cada uma seja única e insondável - só assim podem ser vontades de verdade.

 

 

Terça-feira
ago252009

Espacinho novo

Site novo com blog novo. O site antigo ainda tinha suas qualidades, mas fedia à coisa velha e pedia para ser implodido e, antes que eu o fizesse, fizeram por mim: um obrigada pelo favor, com direito a linhas tortas.

Importei o conteúdo do blog antigo e apaguei algumas coisas ao constatar que muito do que eu havia dito pertencia a outra Leandra Lambert, felizmente falecida e sepultada em outros tempos. Era ainda uma garota, merece risos e músicas adolescentes de épocas passadas em seu funeral. Deixou lembranças e memórias, mas se foi em boa hora. Não que aquela fosse pior ou melhor que a atual, mas era outra: morreu e não sou de arrastar cadáveres por temer perdas. Sei bem a dor que perdas trazem, mas que venham quando necessárias. Libero-me de tudo e todos que precisem ir: os de fora e os que me habitaram. Boa viagem a todos nós.

Hm, já viajei em poucas letras, então melhor concluir: se adquiri a duras quedas essa disposição em relação tudo o que importa de verdade, com pequenos devaneios pessoais e reflexões um tanto instantâneas digitadas em um meio aberto a quem quiser ler é que não vou ter um apeguinho tolo. Mesmo porque não é assim que se chega de fato ao outro.

Deixei em diferentes partes deste site alguns registros do passado que me pareceram algo divertidos ou relevantes neste momento. Algumas lembranças, recuerdos, memorabilia. As que mais se aproximam - ou fazem contraste - à Leandra viva. Por afeto e respeito à memória: que só existe com seu irmão, o esquecimento.

Vivas ao porvir, ao devir.

 

 

* Chega-se de fato ao outro?!

Sábado
mai032008

Taocaos

Imaginação livre e raciocínio agudo não são incompatíveis.
Devaneio não é demência.
Navio que tem rodas e vôa.
Cavalo que monta nuvens.

Bom é viver em dois hemisférios.

Quinta-feira
mai012008

Eu tenho imaginação; o mundo é que alucina.

Quarta-feira
abr302008

A ética prática dos não-moralistas, I.

O bom da "ética flexível" é que um dia ela se aplica a quem a pratica.
Ou: o prazer breve-raso do oportunismo "que deu certo" não vale as incontáveis horas passadas no desespero mal-disfarçado diante do vazio irremediável.
E ainda: a pimenta acaba ardendo no cu deles também!

Terça-feira
abr292008

Repensando...

...sobre coisas que já escrevi aqui:

Política: cada um que faça a sua, esta é a única honestidade possível. Sem medo de mudar de opinião, território e zona autônoma no instante seguinte.

Armas: que todos tenham as suas e saiam atirando violentas violetas, oxímoros oxidados e mônadas metonímicas por aí.

Lembrando enfaticamente que:

A Terra é azul como uma laranja
Redonda como uma pêra
Sólida como oceanos de vodka
e guitarras triplamente destiladas

Sem mais, subscrevo-me
acima.

Segunda-feira
mar032008

SHOW do VOZ DEL FUEGO (em trio) - SÁBADO, 20h

BAZAR NOIR - EVENTO DE MODA MAIS UNDERGROUND DO RIO, QUE VOLTA AO CINE LAPA NO SÁBADO DIA 08 DE MARÇO. DOIS ANDARES DE EXPOSIÇÃO com mais de 30 Expositores.

Bazar Noir
SÁBADO dia 08 de Março de 2008
das 15h às 22h
No Cine Lapa - Av Mem de Sá 23 - Lapa.
Entrada: R$4

flyer aqui
e mais sobre o evento aqui.

Quinta-feira
set062007

Playing alone in the Eros zone


O que eu trago no bolso?

Um show dia 15/09/07, na...

DDK @ Fundição Progresso

Rua dos Arcos, 24 - Lapa, Rio de Janeiro
Preço: Varia de R$ 17, / R$20, (antecipados e 1/2) a R$ 25, (desconto flyer ou 1kg de alimento) a R$ 40, (para os perdidos que têm $ de sobra)

O pocket-show solo será por volta de 1:30 no "Kraftwerk Dancefloor".

LISTA AMIGA R$17,