Segunda-feira
out192009

As noites que se foram, os sonhos(?!?) de consumo, 2010 ali na esquina e os fantasmas boêmios que cantam em outros cantos

Quando comecei a "sair na noite" precocemente - antes da queda do Muro de Berlim - havia algumas características que me encantaram e que se opõem ao que vem acontecendo - e que me fazem desanimar de certos ambientes. Não é "a noite do Rio", nem nenhum lugar específico; não é que tudo o que acontece por aí seja "ruim", claro que tem bandas, músicos, não-músicos e DJs bons. O problema também não se resume a um "tu tá ficando velha": longe disso, aliás. O buraquinho é mais embaixo - e velha está a maior parte o que tenho visto e ouvido por aí. Na verdade, fui daquelas que insistiram até demais, misturando a realidade do que acontecia com um ideal que não se realizou: esta década que se vai foi mais de fantasmas que de noites vivas. Por mais que alguns momentos tenham sido realmente divertidos - e não mais que isso. Esse é o problema.

Click to read more ...

Quinta-feira
out012009

Enquanto não faço os álbuns de fotos...

O Rio se entorna além de horizontes possíveis.

Quinta-feira
out012009

Famous Blue Raincoat

Cheguei ao vídeo de uma das minhas canções preferidas - do Leonard Cohen e de todas - por um blog muito bonito que me levou a outro, também belo... e era escrito por alguém que se foi - e nunca conheci. Mas que me pareceu, neste instante meio fora do tempo, mais próxima do que muitos conhecidos.

Saudade e melancolia do não-acontecido.

----------------------------------------------

O que está acontecendo aqui, na minha vida, nada tem disso: há amor correspondido, pessoas próximas queridas, meus três gatos cheios de carinho e graça. Há uma certa tensão um tanto elétrica que vem com a energia e a vontade necessária para fazer o que decidi. Há mais de vermelho e solar nesse momento do que o cinza do outro lado da janela vem insistindo.

Não deixar de ver o cinza e o escuro do outro lado - muito importante.

E a capa de chuva azul está sempre por perto.

 

 

Quinta-feira
out012009

Cada vez mais 

Acontece isso do umbigo querer ser o centro não só de um corpo que se pretende cheio de órgãos, mas de muitos ao redor.

Isso de uma solidão cheia de ruído e conversa besta na rua achar que o tempo do outro tem que ser junto, quando o compasso está diferente.

Acusa-se a falta sempre "lá fora" - será que é?

Mais afeto, menos paranóia - já tem feiura e tristeza e tragédia e falcatrua demais por aí, não?

Música de todos os amigos, cada um em seu ritmo. Tum, tum... tum, tum... o silêncio do peito faz grande barulho.

Quarta-feira
set092009

Do excesso - um pouco.

Viver e amar intensamente, se atirar em paixões e dizer que são inevitáveis, mergulhar até as antípodas em busca de prazeres superlativos ou frívolos, de epifanias libertadoras ou enganosas. Liberação, descontrole, gozo, perigo. Um certo tom de romantismo maldito torna comum vincular tudo isso às delícias do excesso.

O excesso como conhecimento e pecado, direito à experimentação e ao prazer - e por isso louvado pelos que eram mais sábios que os chatérrimos carolas. "O caminho que leva ao Palácio da Sabedoria", segundo William Blake, mais conhecido ao ser citado por Jim Morrison do que realmente lido. Isso faz tempo - mil setecentos e lá vai bolinha no caso de Blake e anos sessenta do século passado no caso do Jim, tão bonito. Mas muito mudou, mesmo que seja comum agirmos como se pouco tivesse mudado: foi rápido demais. Muitos de nossos desejos, excessos e erros permanecem humanos, tem sua vida, sua beleza torta; outros, nem tanto.

Aquelas palavras ou atitudes que escaparam, ficaram enormes e grotescas, deixando alguém amado ferido, tornando um amor não realizado, transformando uma discussão amigável em inimizade; o olhar defensivo ou indiferente que traiu um momento de fraqueza e medo na hora exata em que você devia provar sua força, coragem, comprometimento; o drink a mais que se multiplicou e fez uma noite festiva acabar em drama, doença e tragédia. Quem não conhece a dor desses pequenos excessos, desses sutis descomedimentos que acabam tendo consequências tão mais vastas e difíceis de suportar do que podíamos supor a princípio?

Isso para nós, pessoas mais ou menos comuns ou estranhas -  já os que levam muito a sério papéis mais heróicos na vida podem se lamentar de "quando a arrogância de uma vitória depois traçou um labirinto de erros, quedas e humilhações".

Todos esses excessos, dos grandes erros aos amores exagerados, são repletos de uma dinâmica caótica muito viva. Encantam: bonitos se vistos de longe, na perspectiva de um observador fascinado com tais forças e narrativas; dolorosos e deliciosos no nosso corpo, na nossa humana experiência pessoal.

Mas há outro tipo de excesso que se instalou como parasita entre nós, em nosso modo de vida. Pouco humano - no sentido de pouco afeito ou mesmo contrário à nossos afetos mais elementares - e de estética vazia e replicante. Confunde-se com o anterior conceito de excesso, prometendo suas mesmas emoções e iluminações - e jamais cumprindo-as a contento. Desejos fabricados e clonados.

Vivemos uma era que instigou, estimulou tais desmedidas. Excesso de consumo desenfreado e insustentável, de trabalho sem sentido (para maior consumo), de informação rasa que se alastra como praga, de velocidade despropositada, de sexo quantitativo, mecânico, distante e desleixado, de comida porca e de magreza cruel, de anestesias vãs para as dores da alma e do corpo. Profusão de infovias e asfaltos que levam a lugar algum, valores agregados desagregadores do espírito, relacionamentos fechados ao outro, o tráfico e a fome das tarjas pretas, das pedras e das poeiras brancas, pornografia enfadonha de bonecos desesperados e beijos numerados de silicone, infindáveis plásticos, couros, carros, óleos e pneus, carnes gordas nas frigideiras ou nas barrigas, travesseirinhos de gordura reais ou imaginários contra os quais frequentemente se luta usando aspiradores e bisturis ou fazendo gestos ridiculamente histéricos sobre um par de tênis caros e horrendos, em frente a espelhos que distorcem  muito mais do que percebemos. Sempre defasados, incompletos e no tamanho errado. Querendo mais.

Apenas começamos a colher a falta, a negação, a crise, um ajuste forçado. Necessário. É hora do "menos".

Agora a temperança, a medida e o equilíbrio deixaram de ser chatices de hipócritas medrosos que desejavam ser virtuosos apenas para se livrarem de castigos terrenos ou celestiais. Tais qualidades tornaram-se mais trangressoras que certos discursos do excessivo. "Não se sabe o que é suficiente até que se conheça o que é mais que suficiente", já disse o mesmo William Blake dos excessos louváveis. Não existe aí uma medida até para o excesso? Uma medida que está no saber?

O excesso já foi amante da liberdade. Hoje, pode ser legítimo esposo da escravidão.

 

 

Quarta-feira
set022009

Crítica ou cricri da crititica?

 

Quando critico algo ou alguém, não me excluo, não estou de fora. A autocrítica está sempre presente, cutucando. Óbvio, mas é muito comum que os críticos de plantão se coloquem por aí como seres superiores e a parte dos outros, do mundo, dos erros. São os cricris em ação - é, resgato este termo do tempo dos meus avós - cricris! Torna-se trivial que os pouco críticos confundam qualquer exercício de discernimento verbalizado com esse tipo de postura arrogante e um tanto estúpida.

Os cricris "percebem" e julgam todos os erros alheios e cacarejam suas sentenças ruidosamente onde houver possibilidade de conseguirem um pouco de atenção. Creem-se possuidores de fórmulas para solucionar as questões físicas, metafísicas, patafísicas, patalógicas e patológicas do universo - embora geralmente se atrapalhem de forma constrangedora na hora de expor suas teses.

Ao não enxergarem a si mesmos criam uma obscuridade tão densa ao redor, um véu tão tóxico, que só podem ver tudo e todos assim: sombrios, confusos, um horror. Crítica sem autocrítica é crititica - limpe-a bem do seu caminho para evitar sujeiras por aí.

Aproveito a ocasião para admitir diante de mim mesma e dos possíveis três ou onze leitores que errei todas as vezes em que respondi uma alfinetada com uma injeção e recebi de volta uma tentativa de lobotomia. Se algo na atitude do outro foi abusivo, convém ser econômico: basta reclamar apenas disso e estabelecer o limite e o respeito - que deveriam estar evidentes. Mas se não estão... é porque também houve falha ao delimitar, as fronteiras ficaram borradas e o cricri se sentiu todo no direito, todo certo.

É desnecessário, equivocado e uma grande perda de tempo e energia isso de "descascar" o sujeito abusado, intrometido, maledicente: ele que pague um terapeuta para tal, ora. Será melhor para ele, que terá um serviço mais adequado e não se sentirá agredido (como, no fundo, talvez desejasse); e será bem melhor para você, que não vai se desgastar nem adquirir o "karma negativo" da sua agressão. Tolice incentivar sadomasoquismo psicológico alheio se não lhe faz gosto entrar na brincadeira.

Quando um insiste em "ajudar" o outro com suas tão estimadas e teimosas "verdades e certezas", subestima o que pretendia ajudar, que se enraivece com motivo; os envolvidos acabam caindo em um embate de "egos e sombras". Cricri praca.

Até que se tocam, se enxergam e viram a página, o olhar. Deixam ir, na leveza profunda dos esquecimentos.

Quem aceita um chá sem porradas?

Quarta-feira
set022009

Bondades? Bondages?

Quatro citações que explicam mais que quarenta argumentos exaltados ou sonolentos:

"Contra algumas defesas. - A mais pérfida maneira de prejudicar uma causa é defendê-la intencionalmente com razões defeituosas"

"Os de boa índole. - ...sentem-se bem na presença de outra pessoa e logo dela se enamoram; querem-lhe bem por isso, seu primeiro juízo é "Eu gosto dela". Neles se sucedem o desejo de apropriação (sentem poucos escrúpulos quanto ao valor do outro), a rápida apropriação, a alegria com a posse e a ação em favor do possuído."

"Limites de nossa escuta. - Ouvimos apenas as questões para as quais somos capazes de encontrar resposta."

(Nietzsche em A Gaia Ciência.)

"O ato mais alto é até outro elevar-te"

(William Blake em O Casamento do Céu e do Inferno)

 

Quinta-feira
ago272009

Livros, gatos e caixas

Encomendei dois livros que chegaram no dia seguinte (recomendo a Cultura, ótimo serviço). Aí dá aquela fissura, tenho que ler pelo menos um trecho e a orelha de cada um. Me ocorre agora que ler a orelha das pessoas também é urgente.

Admito que essa dos livros já me fez chegar atrasada a compromissos mais de uma vez. "Chegar atrasada" era hábito que vem mudando, mas isso ainda me faz "perder" aqueles 15 minutos que, multiplicados pelo trânsito e pela Lei de Murphy, fazem muita diferença no final.

Enquanto isso, os três gatos fazem a festa no mundo encantado da caixa de papelão e do plástico bolha. É só alegria, inclusive pra mim: chego às gargalhadas. Quem convive ou já conviveu com a combinação gatos+caixa+plástico sabe do que estou falando. A vida fica melhor.

E aí o horário... já sabe. O relógio tem que aprender a rir, só assim.

Quarta-feira
ago262009

Árvores e desejos


Amo a Yoko Ono e suas Wish Trees.

Vontade de fazer uma Wish Tree na pracinha que era a "Cracolândia".

 

Hoje passei por umas crianças que brincam na tal praça, voltando da escola. Tomei uma zoada de leve por conta das minhas roupas não muito condizentes com nenhum padrão... ai ai ai! E eu achando que já passava só por "tia". É, certas coisas não mudam.

Quarta-feira
ago262009

Alegria de não ter

 

Não se pode ajudar de fato por "boa índole".

Aceito caras feias - mas apenas dos que dão a cara lavada à tapa.

Não faço questão de ter, não quero ser sorvedouro, admiro mais as fontes.

Quando o foco está em ter a força, o amor, a amizade e a admiração do outro - e o outro mesmo - como uma posse que se gosta de exibir vaidosamente e a que se quer ficar agarrado... hm, não nos enganemos. É de vidro fino a força, de papel crepom a rasgação de seda, a amizade tem data de validade e o amor se equilibra precariamente em cláusulas. É de mentirinha qualquer transformação, apenas photoshop "na alma". Na foto pode tudo, foto é foto, imagem que, mesmo documentando, é objeto estético que se manipula com quaisquer recursos que acentuem a expressão, a beleza, o horror - pessoas, não. Que mostrem-se - ou reservem-se - com suas verdadeiras expressões, belezas, horrores, imperfeições. Caso contrário, vira mico de circo, ou melhor: de reality show.

Não desistir da difícil conquista do "saber ficar só, em si mesmo" - mas junto ao outro. Isso tem muito mais amor e força do que quando se quer ter o outro todo, colocando-o como um triste e indigno híbrido de troféu, palhaço e muleta.

Ter é besteira. Causa transtornos, ziqueziras, azias, congestões e piripaques. Bom é receber, mas deixar fluir, não segurar além do tempo, não travar. Ofertar. E agradecer.

E NÃO, isso não é religioso!  Mas está um pouco além do cinismo a que se convencionou chamar de "ser realista".