TEMPO-MATÉRIA no MAC

Lançamento do catálogo dessa ótima exposição no MAC. Mesa redonda - e ação artística da Leila Danziger, que tem um trabalho lindo. (palavra de fã e orientanda!)
Pré-estréia em SP - A Obscena Senhora Silêncio

A Globo Livros, em parceria com a Livraria Cultura, promove evento especial para comemorar os 80 anos de nascimento da autora Hilda Hilst, autora de livros reverenciados pela crítica e por um público fiel e entusiasmado. Para abrir o evento, Alcir Pécora, professor da Unicamp e organizador das 'Obras completas de Hilda Hilst' e de 'Por que ler Hilda Hilst'. Em seguida, haverá a apresentação e exibição de trecho do documentário 'A Obscena Senhora Silêncio', de Leandra Lambert (direção), Marco Aurélio Brandt (fotografia) e Alexandre Gwaz (edição). Encerrando, o cantor e compositor Zeca Baleiro apresentará faixas do CD 'Ode Descontínua para Flauta e Oboé, de Ariana para Dionísio', cujas letras são de poemas de Hilda Hilst.
Sobre a homenageada:
Hilda Hilst nasceu em Jaú (SP), no dia 21 de abril de 1930. Formou-se em direito pela USP em 1952. Em 1966, mudou-se para a Casa do Sol, uma chácara próxima a Campinas (SP), onde passaria o resto da vida. Poeta, dramaturga e ficcionista, Hilda Hilst foi agraciada com os mais importantes prêmios literários do país (como Jabuti, APCA e Moinho Santista) e participou do Programa do Artista Residente da Universidade Estadual de Campinas. Seu arquivo pessoal foi comprado pelo Centro de Documentação Alexandre Eulálio do Instituto de Estudos de linguagem, da UNICAMP, em 1995, estando aberto a pesquisadores do mundo inteiro. Alguns de seus textos foram traduzidos para o francês, inglês, italiano e alemão. A escritora faleceu em Campinas no dia 4 de fevereiro de 2004.
* Sujeito a lotação do auditório - 125 lugares.
** Haverá distribuição de senhas a partir das 14h no local. Será distribuída apenas 1 senha por pessoa.
BR.ADA +!
O ótimo blog do coletivo de mulheres-pesquisadoras-artistas-incríveis está dedicando posts a cada um dos selecionados para a mostra coletiva no site-galeria Blanktape. O Dziga tá lá, logo após o excelente trabalho da Tânia Gonzaga.
Aliás, as outras expos no arquivo do Blanktape são muito boas.
http://br4d4.wordpress.com/2010/03/30/dziga-vertov-a-incrivel-encantadora-de-numeros/
E link pro Blanktape no post abaixo.
ADA Lovelace>BR.ADA>blanktape
"BR.ADA: Celebrando Ada é uma exposição organizada pelo site blanktape em parceria com o coletivo BR.ADA. A abertura no dia 24 de março é uma forma de integrar uma ação internacional na rede em homenagem a Ada Lovelace. Além de resgatar o universo de Ada, nosso objetivo principal é compartilhar textos e obras com foco na importância da mulher na produção artística e/ou tecnológica."
Música do Dziga Vertov: "A Incrível Encantadora de Números"
Três peças sonoras que fiz com o Alexandre: "ADA jpg> ADA wav"
http://www.blanktape.com.br/index.htm
Para saber mais por lá, clicar no link [+]; para ver a expo completa com as hidden tracks, é só seguir os links azulzinhos < e >, em cima, à direita.

A favor do contra - ou não!
Um hábito me acompanha desde a infância: implicar com unanimidades, perguntar "por que?" até irritar o outro, ser do contra só pra ver até onde o outro está disposto a ir, que argumentos e discursos inflamados serão derramados, até onde a história vai. Espírito de porco? Não é nada disso: eu mesma não tenho certeza de nada e quero conferir se outro tem. Se tiver, espero que seja balançado - ou não. Quero ver se eu mudo de idéia, se o outro muda, se todos mudam. A vontade é apenas de ver, ouvir e me divertir com certezas abaladas, unanimidades questionadas, argumentos hilários ou precisos e preciosos. Para tal, já falei mal de bandas que eu amava em mesas de bar, já incensei antipáticos polêmicos e detonei simpáticos amáveis, já disse que algo que eu achava chatíssimo era muito melhor que outra coisa (que eu também nem gostava, ok)... e por aí vai.
Já fiz isso inclusive aqui nesse blog. Devido a uma aula divertidíssima no mestrado outro dia, lembrei especificamente de uma das minhas "mentirinhas provocativas", em que eu dizia estar de saco cheio de papo de jovem-guarda e que a bossa-nova era melhor. Bem, a verdade é que sempre achei essas duas vertentes da música brasileira de outrora, a "chique" (?) e a "cafona" (?), em geral, chatas pracaralho. Questão de gosto, "de estômago", diria Nietzsche. Acho as duas muito levinhas, chatinhas, diminutivazinhas, e é um tal de barquinho pra cá, pato pra lá, e calhambeque bibi, e sabiá... ih, nada disso aí é comigo.
Não acho a bossa-nova melhor por ser refinada. Claro que há belas músicas (especialmente Tom Jobim), tem o humor do João Donato, e por aí vai; mas em geral aquele papinho Ipanema idílica elitista me cansa, e o violão blemblem me irrita e quero mais que o pato e o sabiá peguem um barquinho lá pra casa do caralho.
Mas assim como nos anos 90 e início dos 00s havia pencas de modernos clamando influências da bossa-nova, agora há pencas de modernos "resgatando" a jovem-guarda. O que torna a jovem-guarda uma espécie de nova bossa-nova, paradoxalmente. Tá, teve gente fazendo coisa boa e divertida com isso - a Karine Alexandrino por exemplo - mas, putaquepariu, em geral já deu no saco. É, estou desbocada - acho palavrão lindo, desopila que é uma beleza. Há muitos anos faço a defesa poética do palavrão espontâneo, sem ser forçado "pra chocar", o palavrão honesto, alegre, necessário.
O que me incomoda na jovem-guarda não é a suposta cafonice, a tentativa de ser rock, o fato de ser popular e rejeitada pelas elites - ao contrário, isso tudo me agrada. O que me incomoda é que, pro meu gosto, foi comportada demais, pegou leve demais. Eu queria mais, será que não podia ser mais... maldita? Não foi, ok, foi o que foi. Assim, no pretérito, PASSADO, FOI. Aí está a questão: para que este eterno "resgate"? Parece que há um medo geral de tudo o que não chega com sua carta de referências históricas, filiações explícitas, releituras bem explicadas, raízes claramente fincadas no passado, com reverência. Como se tivessem medo de que nosso passado cultural pode ser roubado a qualquer instante. Trauma da ditadura?
O problema é que, com isso, ficam sequestrando o futuro e embolorando o presente.
Leandra Lambert
Curioso foi ver um artigo na revista da Cultura em torno do tema bom gosto/mau gosto musical e preconceito. Legal, bacana. Aos 14 ou 15 anos mandei uma carta pra uma revista sobre o tema, queria ter guardado uma cópia, pelo que eu me lembro permanece bem atual, tinha a ver com muito do que li por lá. Mas achei graça de algumas coisas na matéria, principalmente a de que os EMOS seriam vítimas de preconceito por usarem um visual "sombrio e andrógino" e fazerem um som "pauleira". Hahaha, não, por favor! Pode ser assim pra vovós crentes, ok... mas o pior é que, pensando por mais dois segundos, chega a me assustar concluir que pode ser isso mesmo - para jovens que já nasceram velhos, para jovens homofóbicos, burros e por aí vai... caramba. Então está cheio disso por aí, como foi possível perceber naquele episódio da menina de mini-saia pink naquela, ahn, universidade? Sinto-me um ET, de fato. É assustador.
A modinha EMO é deplorável por motivos opostos. Sem querer julgar os pobres adolescentes que caem como patinhos de franjão nessa desgraça - adolescência é um inferno - mas pegando pesado na crítica, porque acho necessário: os emos compram um pacote comportamental anódino que em nada lhes fortalece. Se vitimizam, se diminuem, são dóceis e domesticados, adoram shoppings e fofoca vazia de orkut, só vivem neles, falando de tinta no cabelo e afins. Visual sombrio e agressivo? Aonde? Aquela diluição infantilizada e abobalhada do punk e do pós-punk assusta alguém? Uma criança com um lençol fazendo "bu" consegue mais. Aliás, até a sexualidade é infantilizada entre emos, não deu pra perceber? Será que deu, deu mesmo? Melhor não... e aí esbarra-se também em outro aspecto da questão: a infância sexualizada. Pois é.
Mas voltando ao lado musical, que o assunto acima rende uma tese complicadíssima: música sempre foi um canal de libertação das amarras, de liberação dionisíaca, de descoberta de potências. Quando domesticam isso, quando domesticam o próprio desejo naturalmente conturbado dos adolescentes, que se torna restrito a meia dúzia de "opções" pré-moldadas... algo muito próximo de "escravidão" está acontecendo. É fácil ver que uma menina anoréxica ou bulímica está sofrendo um tipo de dor, alienação e desespero causados, em boa parte, por uma indústria de consumo que MASSACRA a formação de territórios mínimos de existência e identidade, que impõe - pela sedução - modelos impossíveis e terríveis. Talvez não seja tão fácil perceber que algo muito parecido está acontecendo com quem consome - e é consumido por - esse "kit" EMO: porque há uma maquiagem de rebeldia, de fora do padrão; mas é apenas um outro padrão, muito bem encaixotado como tantos outros. E aí... como pensar "outside the box"?
O que se chama de emo merece uma crítica pesada porque as músicas e atitudes não tem nada de inteligente, socialmente provocativo e esteticamente maldito - ao contrário de bandas antigas como Velvet Underground, The Stooges, Sex Pistols, Einstürzende Neubauten, Ministry, Atari Teenage Riot - só pra citar algumas com um visual que pode ser chamado de "andrógino" ou "perigoso". Mas nunca se restringiram ao visual, longe disso - muito menos aceitaram o pastiche inofensivo desse visual. E hoje em dia? Tem muita gente doida-no-bom-sentido, malucos espertos por aí - porque emos não usam a internet pra isso, pra descobrir música nova independente que não toca nos 3 ou 4 canais de TV que assistem? GIMME DANGER, people!
A "marca fantasia EMO" esvazia, pulveriza possibilidades de trangressões e brechas pra quem compra o pacote, anestesia com uma lamúria diluída e algum barulho genérico de fundo - que VENDE, e muito. Emo é um segmento MAINSTREAM, só parece estranho e underground pra quem não se deu ao trabalho de perceber a fragilidade do pastiche, convenhamos. Por ser tão anódino e sem substância, vira alvo fácil de piada, vitimiza ainda mais. É um tremendo caô vendido a adolescentes deprimidos, coitados. Coitados? Pois é, porque se deixam ser tão coitados, PORRA?! Adolescência é um inferno - mas há meios de se tirar força daí. Para tal, há que assumir a insatisfação, há que desejar algo mais do que a porcaria que te empurram com um aromatizante docinho goela abaixo, há que chutar uns baldes e buscar um tanto de autonomia, auto-estima, vontade de ver mais, ouvir mais, dizer mais, entender mais.
Estão conseguindo matar até isso nos adolescentes? E pra tirar um troco fácil, é isso?
Perplexidade, mais uma vez.
Leandra Lambert |
Sexta-feira, Março 26, 2010 at 11:47AM |
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Share Article Mais algumas questões
É feito de sons polimórficos? De imagens polifônicas?
De carne desmaterializada em palavras? Cores encarnadas? Habita fora da casinha? Tem sentido? Muito?
Por uma década realmente nova
Torpedo recebido da amiga Thaís no dia 31-12-2009:
"Toda alma é uma melodia que convém renovar" (Mallarmé)
É isso. Que seja assim 2010, de almas sonoras e renovadas.
Leandra Lambert |
Quarta-feira, Janeiro 6, 2010 at 2:50PM |
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Share Article O Som dos Ursos Polares no Último Inverno
Será que continuará a existir? Até quando?! Mais perguntas para o Livro da Vida - e da Morte. Perguntas que eu gostaria que não precisassem existir.
Enquanto assistimos a um (poluente e dispendioso) circo montado para decidir o quanto e em quanto tempo vamos nos foder, a questão principal entre os palhaços donos do picadeiro é a mesquinha "quem vai pagar as contas". Parecem moribundos contando as moedas e brigando pelas jóias que vão levar para o túmulo.
Tentamos fazer alguma ínfima diferença no barulho dos protestos, no sussurro das palavras, idéias e conceitos, no silêncio dos lutos acompanhados de pequenos atos diários - como consumir menos, desapegar mais e partir pro escambo, andar mais a pé ou de bicicleta, não comer carne. Ou não - na futilidade da insensatez, na cegueira da estupidez egoísta. Enquanto não dói no próprio corpo, a tendência é nem ligar - e não é por isso que chegamos a este ponto?
A natureza da Vida na Terra é a transformação - e é provável que, entre extinções e catástrofes, invente novas e fantásticas formas de vida, como faz há eras. Quase certo é que não haja um único humano presente.
Problema nosso.

